domingo, 2 de septiembre de 2012

28 agosto 2012 O'Globo (Brasil) (05.08.12)

28 agosto 2012 (05.08.2012)
Diario O’Globo (Brasil)


“Espanha coloca terroristas e vitimas do ETA frente a frente”

Patricia Guilayn

MADRI.- Há 25 anos, Roberto Manrique saiu com cabeça, corpo e membros queimados do shopping Hipercor, onde trabalhava, em Barcelona. Mas sobreviveu. Uma sorte que outras 21 pessoas nao tiveram quando o carro-bomba estacionado na garagem do centro comercial explodiu. O atentado foi o mais sangrento de meio século de violencia do grupo separatista basco ETA.

O autor foi um galego, Rafael Caride Simón, sentenciado a 790 de prisao. Mas o tempo máximo de detençao, segundo o Código Penal da época, é de 30 anos, dos  quais ele ja cumpriu quase 20. Há pouco mais de um ano, Caride se desvincolou do ETA, por escrito, junto con outros sete presos. E enviou uma carta a Manrique reconhecendo os danos causados e pedinho um encontro para mostrar seu arrependimento. Recentemente, o sobrevivente catalao ficou frente a frente com o algoz. Ele foi uma das cerca de 20 vitimas que participaram de um programa de reinserçao do presos de ETA organizado pelos governos español e basco.

-Caride nao pediu perdao, porque disse que é comunista e ateu. Para ele, o conceito de perdao está relacionado à Igreja Católica. Mas ele estava arrependido, e mostrou isso umas dez vezes na hora e meia que durou o encontro. Constantemente falava que o que fez foi um massacre, que tinha sentimento de culpa, e que nao debería ter feito o que fez. Senti que o arrepndimento era sincero. Ele disse que sabia que nao so tinha destruido outras vidas, como tinha destroçado a sua própria – conta Manrique ao GLOBO.

Cordialidade, mas sem contato fisico


Manrique saiu de prisao de Zaballa, no País Basco, satisfeito. Dise que foi um encontro educado. Cumprimentou o terrorista com um “bom dia” e, na despedida, ao ver que o preso se aproximava, explicou que nao cogitava nenhum tipo de contato físico. Depois de ter lido na imprensa que uma vítima abraçou um terrorista e chegou a trocar e--mails com ele, descartou ter um comportamento parecido.

-Como vou apertar a mao de quem queimou as minhas? Pregunta. Meu objetivo foi fomentar a divisao no ETA. Há terroristas com muitos mortos nas costas que estao dando um passo para reconhecer os danos que causaram. Emocionalmente, para mim nao solucionou nada. Jamais alimentei ódio, sentimentos de vingança ou rancor em relaçao a Caride. O que sempre quis foi justiça, que ele cumpra a pena.

O componente terapéutico que Manrique diz nao ter experimentado outros afirmam ter vivido. Pelo menos em teoria, esse seria o objetivo do encontro, como afirmou recentemente o advogado Xavier Etxebarria, coordenador do projeto organizado pelp gobernó basco.

-Os encontros significaram, para quase todas as vítimas, um passo muito importante na superaçao do trauma. Saíram muito orgulhosas de terem sido capazes. Para elas, foi muito satisfatório ouvir da boca de um exterrorista que a violencia cometida pelo ETA foi injusta e inútil – disse Etxebarria.

As reunioes comeáram a ser organizadas em maio de 2011, quando os socialistas ainda governavem a Espanha. Eram confidenciais e nao ofreciam nenhum tipo de beneficio legal a os presos, justamente para que o interese de participar do programa –que debería partir dos terroristas- foie o mais sincero possível. Hoje no poder, o conservador Partido Popular deu continuidade à iniciativa- Manrique foi o primero dessa nova fase. E fez algumas mudanças, como permitir que as vítimas também sejam responsáveis por dar o primeiro passo.

Diferentemente de Manrique, que nao preparo seu encontro, Consuelo Ordóñez chegou a prisao de Nanclares de Oca, também no País Basco, com una lista de perguntas que queria fazer a Valentín Lasarte, preso por participar, do assassinato de de seu irmao. Gregorio Ordóñez tinha 37 anos quando, na véspera das eleiçoes municipais de San Sebastián, para as quais se apresentava como candidato a prefeito pelo Partido Popular, foi morto baleado na nuca em un restaurante.

-Nunca tinha pensado em participar desees encontros. Quando escutava falar delaes, para mim parecia gozaçao. Mas como houve mudanças na organizaçao, eu resolvi aproveitar a oportunidade e mostrei meu interesse ao gobernó –conta Consuelo ao GLOBO.- Minha intençao era denunciar que o arrependimento do terrorista nao vale se ele nao estiver disposto a colaborar para que se esclareçam os 326 assassinatos ainda nao resolvidos.

Consuelo diz que parentes de 40% dos mortos em açoes do ETA “vivem em meio a incógnitas e nao foran sequer indenizados”.

-Nos tres julgamentos de Lasarte, todos os quais eu presenciei, ele dizia repetidamente que nao se lembrava de nada. Desta vez fui eu quem fez o interrogatorio, mas saí de lá sem saber absolutamente nada de novo.

Um sofrimento a mais


Uma das perguntas dela que ficaram sem resposta foi sobre quem atirou no seu irmao. As muitas quesotes das víctimas e parantes sao, em geral, relacionadas às motivaçoes de preso para entrar no ETA e sobre como é participar de atentados e, depois, conviver com essas mortes –o grupo deparatista assassinou 829 pessoas em seus mais de 50 anos de atividade. Os presos, por outro lado, querem estar diante das víctimas para se redimir.

-Nao sou partidária de que me peçam perdao, pois teriam que pedir perdao a meu irmao, e ele está morto. Foi o que eu disse para o terrorista quando ele pediu que eu o perdoasse. Ele disse que estava arependido e que sabia que o que fez foi um ato irreversible –conta Consuelo-. Acredito no arrependimento dele, mas continuo achando que esses encontros sao desnecesarios. Tive que tomar uns comprimidos milagrosos para poder cegar lá e, para mim, foi um sofrimento a mais.

Datas-chave de meio século de luta armada

Junho de 1959

Disidentes do Ekin, um grupo formado por críticos da passividade do Partido Nacional Basco, fundam o Euskadi Ta Askatasuna, ou Pátria Basca e Liberdade.

Maio de 1962

O ETA realiza sua primera assembleia, na França, apresentando-se como movimento revolucionario e organizaçao clandestina defensora da luta armada

Junho de 1987

O grupo realiza o ataque mais sangrento de sua história: um carro-bomba explode num centro comercial em Barcelona, causando 21 mortes e ferindo 45

Abril de 2002

Operaçao coordenada pelo juiz Baltasar Garzón desmantela uma rede de estabelecimientos comercias chamados herriko tabernas, que financiavam o grupo

Outubro de 2011

O ETA anuncia o abandono definitivo da luta armada. A declaraçao é recebida com ceticismo, pois o grupo ja propos uma dezena de treguas desde a década de 1980



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